Alimentação Saudável: um direito

Matéria Também Publicada no Jornal Impresso Terra Vermelha

Por Leonardo Xavier

Informações sobre a fome divulgadas pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que atualmente, com dados de 2016, há no mundo aproximadamente 815 milhões de pessoas subalimentadas, sendo que 155 milhões são crianças com menos de 5 anos de idade. A alimentação é um direito humano que ainda hoje não é exercida plenamente.

Outro questionamento que deve estar presente quando falamos de alimentação é a qualidade dos alimentos que estão disponíveis e são ofertados. Há uma forte tendência à padronização da alimentação em nível mundial, onde se tem uma série de produtos nas prateleiras dos supermercados oriundos dos mesmos ingredientes, tendo principalmente o milho, trigo, arroz, soja e cevada como matéria prima.

Estas commodities são produzidas via de regra em monocultivos estabelecidos em grandes áreas visando o abastecimento do mercado mundial. Estes monocultivos são também altamente dependentes do uso de agrotóxicos, tanto que o Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. O agronegócio tão propagandeado como “pop, tec e tudo” não solucionou e nem solucionará o problema da fome e ainda deixa para as comunidades locais os impactos de sua forma de produzir.

Contraditoriamente o direcionamento das políticas públicas segue priorizando recursos para o modelo de produção baseado na lógica do agronegócio. Políticas que privilegiam a agricultura familiar e camponesa e que contribuem para promover a diversificação dos sistemas produtivos estão tendo seus recursos escassos, como é o caso dos programas institucionais para compra direta de alimentos da agricultura familiar (PAA e PNAE), recursos para a reforma agrária e assim por diante.

Foto: Thiarles França

Os movimentos camponeses organizados na Via Campesina defendem por sua vez a proposta de soberania alimentar, considerando esta como sendo o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e o direito a decidir seu próprio sistema alimentar e produtivo. Esta proposta de certa forma está presente na discussão e legislação atual brasileira sobre Segurança Alimentar e Nutricional.

Uma questão fundamental deste debate é que a alimentação deve ser um direito, mas também é um direito a decisão sobre a forma de se produzir. Os camponeses por tradição histórica manejam sistemas produtivos mais diversificados, basta olhar para a prática dos camponeses de nossa região que veremos que é comum a diversidade, tanto de cultivos vegetais (feijão, milho, mandioca, hortaliças, frutas, batata doce, etc) quanto de animais (galinhas, porcos, gado, etc).

Quando são estabelecidos sistemas produtivos mais diversificados, consequentemente se passa a ter menor dependência do uso de agrotóxicos. Ou seja, os sistemas camponeses diversificados são capazes de, ao mesmo tempo, produzirem alimentos sem os mesmos impactos negativos gerados pelo agronegócio e servirem como base para a diversificação e melhoria da qualidade dos alimentos disponíveis à população.

Se queremos portanto um futuro onde tenhamos alimentos saudáveis e sistemas produtivos que não contaminem nem os recursos naturais e nem a saúde humana, os camponeses e agricultores familiares devem ser vistos como protagonistas fundamentais. Por isso as propostas de políticas públicas e projetos de desenvolvimento precisam ter isso como ponto fundamental, inclusive para buscar a solução para o lamentável problema da fome, que não deveria existir em nenhuma sociedade dita civilizada.

Foto: Thiarles França

Trabalho de Assessoria de Comunicação realizado com apoio 

Curso de Especialização em Realidade Brasileira – CRB: uma construção entre a UFFS, os Movimentos Sociais do Campo e o CEAGRO pela garantia do direito à educação para a classe trabalhadora

Por Jaine G. de Amorin 
Revisão Thaile V. Lopes

A conjuntura política e econômica que estamos vivendo na atualidade evidencia uma crise estrutural do capitalismo e uma ofensiva do capital internacional sobre as economias periféricas, em busca de recursos naturais, matérias-primas, energia e mercado, com o objetivo de aplicar um programa neoliberal (subordinando a política aos interesses do capital financeiro e das empresas transnacionais). As contradições e crises do sistema capitalista afetam o mundo inteiro e, sobretudo, a América Latina. No Brasil, vivemos uma grave crise econômica, política, social e ambiental, que afeta diretamente a classe trabalhadora, tendo em vista que,para aumentar a taxa de lucro e o processo de acumulação capitalista, a burguesia aumenta a exploração dos trabalhadores, retirando direitos históricos, como a CLT, por meio de medidas como a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência, a terceirização e as privatizações. Diante disso, é importante para a classe trabalhadora entender que se há crise, mesmo quando difícil de ser solucionada, há possibilidade de mudanças. Para tanto, é necessário construir espaços e processos permanentes de estudo e análise da história e da realidade brasileira, e, a partir daí, traçar o caminho e ações coletivas para intervir nela criticamente, a fim de transformá-la.

Nessa perspectiva, considerando a importância do acesso ao conhecimento, para entender a realidade em que vivemos e elevar o nível cultural, educacional e de consciência da classe trabalhadora, a Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus de Laranjeiras do Sul, por meio de uma parceria com os Movimentos Sociais do Campo (MST, MPA, MAB), APP Sindicato e o CEAGRO, construiu a proposta do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Realidade Brasileira. A especialização terá duração de 2 anos e funcionará em regime de alternância, com atividades pedagógicas e de estudo em tempo universidade e tempo comunidade. O tempo universidade possuirá três etapas presenciais (a primeira em janeiro de 2018, a segunda em julho de 2018 e a terceira em janeiro de 2019), que serão realizadas no CEAGRO, Unidade Vila Velha, em Rio Bonito do Iguaçu.

Foto: Jaine Amorin

A primeira etapa do curso iniciou na segunda-feira (22) e terá a duração de 10 dias, sendo 10 horas aulas/dia.

O ato de abertura do curso contou com a participação e falas dos professores coordenadores do curso pela UFFS, Roberto A. Finatto e Ana Cristina Hammel;do coordenador geral do Ceagro, Luis Carlos Costa; da Diretora de Campus da UFFS Laranjeiras do Sul, Janete Stoffel; bem como os representantes dos Movimentos Sociais.Todos afirmaram a importância da realização do curso, para a Universidade e para as organizações sociais que contribuem na construção do mesmo. A aula inaugural foi ministrada pela Professora Dra. Maria Orlanda Pinassi, da UNESP, que fez uma análise de conjuntura,da crise econômica e política do Neodesenvolvimentismo no Brasil.

Cumprindo com o pré-requisito do edital, a turma tem representantes de movimento sociais e organizações sindicais, sendo eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA e APP Sindicato. A turma é composta por 67 estudantes, desses, 45 receberão certificado de especialização (pós-graduação) e 22de extensão.

O MST compreende a educação como um dos direitos humanos fundamentais e como uma das suas principais bandeiras de luta, Nesse sentido, organizou 27 estudantes acampados/as ou assentados/as em áreas de reforma agrária para fazer o curso; Desses, 17 são acampados/as em áreas de conflito pela terra na região da Cantuquiriguaçu. Esses/as estudantes compreendem que  não basta apenas a conquista do direito à terra, mas que o direito a educação também é fundamental, pois o conhecimento é uma condição essencial para a luta da classe trabalhadora.

Em entrevista com Ciliana Federici (formada em pedagogia e receberá certificado de especialização), que é do Acampamento Herdeiros da Terra de I de Maio, coordenadora da Escola Itinerante Herdeiros do Saber e integrante do setor de educação do MST, a mesma destaca que esse curso vai contribuir na formação política e pedagógica dos militantes e também na construção da proposta educacional do MST, que nas palavras dela é “(…) uma proposta de educação que consiga dentro e fora da sala de aula, fazer com que os sujeitos pensem sobre a sociedade que eles estão vivendo (…)” e ainda ressalta que “o curso vem ajudar e muito na prática nossa, seja em sala de aula, na militância, ou em qualquer espaço (…), vem para que consigamos entender melhor a sociedade que estamos vivendo, e também ajudar o Movimento do qual fazemos parte, no ambiente onde convivemos, independente do setor ou coletivo que fazemos parte. O curso vem com o objetivo de interpretar a atual conjuntura, mas para além disso, compreendê-la pra tentar construir uma sociedade diferente que é o que sonhamos enquanto movimento!”

Federici ainda destaca a importância da presença de diversos movimentos sociais e sindicais, que para ela é uma grande experiência, pois cada organização tem na sua luta suas particularidades, no entanto, somos a classe trabalhadora e temos um mesmo ideal, que é a construção de uma nova sociedade. Conclui destacando a importância da UFFS ter aberto as portas para os estudantes não graduados, “aqui temos pessoas estudando que são formadas com curso superior e também tem aqueles que estão no acampamento,que são coordenadores de núcleo de base, isso é muito importante, cada um tem sua caminhada, mas todos querem adquirir o conhecimento e esta e uma grande oportunidade”.

O Professor Roberto A. Finatto, coordenador do curso, destaca que “a Especialização em Realidade Brasileira é fundamental para ampliar e aprofundar o conhecimento sobre a formação e a realidade socioespacial do Brasil” e socializa como foi a articulação da proposta de trabalho desse curso dentro da Universidade: “Foi realizado um esforço para articular a proposta de trabalhar a realidade brasileira com base em autores clássicos de diferentes disciplinas, com a disponibilidade e a formação do corpo docente do campus”. Complementa que “a oferta do curso aproxima ainda mais a universidade da realidade em que ela está inserida”.

Finatto ainda ressalta a importância dos movimentos sociais estarem presentes dentro da Universidade, desde o período de sua construção: “a presença dos movimentos sociais populares sempre foi marcante, inclusive no seu processo de constituição”.Ressalta a importância da turma ser composta por discentes que atuam em movimentos sociais e organizações sindicais. “A presença de professores das redes municipal e estadual de educação, representantes dos movimentos sociais e organizações sindicais entre os discentes amplia a abrangência das reflexões produzidas e permite que as mesmas cheguem até as escolas, comunidades e outros espaços de formação em que os estudantes do curso atuam.” Conclui Finatto.

O CRB é uma importante iniciativa que, além de possibilitar o estudo de autores clássicos brasileiros, como Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, dentre outros, apresenta a possibilidade de identificar as contradições da sociedade, como as forças do capital atuam em nosso país, para confrontá-las. Estamos em meio a uma crise sem precedentes na história e ainda não estão claros os caminhos e as construções possíveis. Mas teremos muitas mudanças pela frente, por isso é importante debater e a analisar quais ações devemos adotar de forma conjunta, como parte de um processo permanente de luta, estudo e análise da história e da realidade brasileira.

 

GRUPOS AGROECOLÓGICOS

Matéria Também Publicada no Jornal Impresso Terra Vermelha

Por Rodrigo Silva 

Chamamos de Grupo o conjunto de sujeitos que se unem em prol de um objetivo comum, que no caso dos participantes da Feira Regional de Economia Solidaria (FESA) é o avanço da Agroecologia e da Economia Solidária. Eles podem ser Cooperativas, Associações ou Grupos Informais. Guardadas as devidas proporções, podem-se indicar as seguintes características dos Grupos Agroeocológicos:

  1. Diálogo de Saberes como Estratégia para a Construção do Conhecimento: os saberes e os fazeres dos agricultores são valorizados. A partir desta valorização, novas opiniões de técnicos, pesquisadores e consumidores se somam. Aumentando assim o conhecimento acerca da Agroecologia e da Economia Solidária.
  2. Produção Diversificada de Alimentos: ao invés de produzir um ou dois gêneros alimentícios, os Grupos Agroecológicos apostam na diversidade como caminho para geração de renda e promoção da soberania alimentar. Num levantamento feito com famílias do Núcleo Luta Camponesa, identificou-se mais de 80 espécies consumidas e comercializadas em 10 Grupos.
  3. Comercialização Baseada nos Princípios da Economia Solidária: os Grupos priorizam que sua produção seja comercializada em relações onde “todos ganham”, como feiras, cestas, entregas diretas e afins. Nestes espaços, os consumidores ganham na medida em que se alimentam de produtos saudáveis. Já os agricultores são beneficiados ao receberem um preço justo por seus produtos.
  4. Aumento da Cooperação: graças a práticas como mutirões, reuniões ou atividades culturais (festas, almoços e afins), as famílias dos Grupos Agroecológicos tendem a criar um ambiente de cooperação entre si. Esse processo faz com que os problemas em comum muitas vezes sejam tratados de forma coletiva, aumentando assim as possibilidades de resolução

Atualmente, o CEAGRO vem apoiando mais de 30 Grupos inseridos em 10 municípios dos Territórios da Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. Eles são vinculados ao Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia, Coletivo Regional de Mulheres e Coletivo Regional da Juventude. Estes Grupos são responsáveis pela maioria dos espaços de comercialização encontrados na  FESA que acontece anualmente na cidade de Laranjeiras do Sul, PR.

Acampamento Herdeiros da Terra de I de Maio, Município de Rio Bonito do Iguaçu/PR. Fonte: Arquivo CEAGRO

Trabalho de Assessoria de Comunicação Realizado com Apoio