Se o campo não planta: A cidade não janta!

Mais de 12 toneladas de feijão orgânico foram produzidas e comercializadas por famílias acampadas na região Centro do Paraná.

Por Jaine G. de Amorin

Cerca de 100 famílias organizadas em 3 grupos de produção nos acampamentos da região Centro do Paraná comercializaram 12,5 toneladas de feijão orgânico, das variedades Preto (7.500 Kg), Cavalo Rajado ou Cariocão (2.000 Kg) e Carioca (3.000 Kg). As vendas foram realizadas através da Comercializadora da Reforma Agrária, vinculada ao CEAGRO, que levou a produção aos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, além da capital paranaense. A produção seria ainda maior, não fosse o período de chuvas intensas na época de colheita, responsável por perdas na ordem de 50%, segundo estimativa dos produtores. O valor recebido pelas famílias produtoras foi mais que o dobro do feijão convencional, um estímulo a mais para a produção de alimentos orgânicos.

Foto: Disponibilizada pela Comercializadora

As áreas de produção são certificadas pela Rede Ecovida de Agroecologia. Os três grupos formados por famílias acampadas são organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e estão localizados nos acampamentos Dom Tomas Balduíno e Vilmar Bordin, do município de Quedas do Iguaçu, e Herdeiros da Terra de Primeiro de Maio, município de Rio Bonito do Iguaçu. Além da comercialização do feijão para outras regiões e estados vizinhos, as famílias também estão comercializando diversos produtos orgânicos em feiras e mercados da região, abastecendo escolas através do PNAE, além de vendas para empresas de alimentos orgânicos.
Contabilizando somente a produção feita nos acampamentos dos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, estima-se que cerca de 40 à 50 toneladas de alimentos orgânicos sejam comercializadas até o final de 2018.
As famílias recebem assessoria técnica do Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia – CEAGRO, que também articula a comercialização em rede. O eng. Agrônomo Christiano Boza, responsável pela Comercializadora, aponta que a região tem potencial para ser uma grande produtora de feijão agroecológico. Comparando com a produção de arroz feita pelo MST no Rio Grande do Sul, ele faz um prognóstico otimista para a região, pois sabe que com dedicação pode se tornar realidade. “Se no Rio Grande do Sul eles são os maiores produtores de arroz agroecológico da América Latina, nós podemos aqui nos tornar os maiores produtores de feijão agroecológico”.

Foto: Disponibilizada pela Comercializadora

Boza ressalta ainda a importância de abastecer o mercado local com produtos de qualidade e a preço justo. “Abastecer o mercado local é uma prioridade e um principio, o fato de não ser preciso deslocar os produtos por grandes trajetos mantém a qualidade e um preço menor para o consumidor. (…) No entanto observamos que a região não consegue absorver toda a produção, e por isso nos articulamos para levar a produção aos grandes centros onde se tem uma maior demanda”, completa o agrônomo do CEAGRO.
Tarcísio Leopoldo (agricultor e militante do MST, integrante do grupo Agroecológico Produzindo Vidas do acampamento Dom Tomas Balduíno, local onde reside desde a ocupação), nos diz o quanto foi e é importante a venda dos feijões, pois prova de forma concreta que a produção agroecológica pode ser feita em grande escala. “Dentro do grupo de agroecologia a venda foi importantíssima para fortalecer o debate que já vem sendo construído desde o começo do acampamento e se reafirma com esse fato concreto (a comercialização dos feijões), que se pode produzir não apenas para o consumo, mas também em grande quantidade”.
Leopoldo ainda destaca que essa conquista só foi possível graças ao trabalho em grupo proporcionado pela dinâmica da Rede. “Junto com a Rede Ecovida é possível comercializar os produtos, pois se tem uma organização em grupo onde todos colaboram.” Tarcísio, ainda cita a produção convencional feita no acampamento onde os agricultores não estão organizados em grupo, dificultando a comercialização. “A produção convencional no acampamento teve mais dificuldade em comercializar, pois os agricultores tiveram que pagar frete, caro, para levar os produtos até o destino. Já no grupo de agroecologia a forma de organização facilitou a comercialização, pois a Comercializadora do Núcleo Luta Camponesa conseguiu articular, junto as/os agricultoras/es, que os produtos fossem pegos dentro do acampamento e levado direto até os grandes centros.” Ele ainda nos conta que as famílias dos Grupos Agroecológicos já estão fazendo o seu plano de produção, na área já certificada, para o próximo período.
A organização das famílias sem terras nos mostra o quanto a luta por Reforma Agrária Popular e a produção agroecológica são importantes em um país que ainda possui uma alta concentração de terras e um dos que mais consome agrotóxicos no mundo.

Revisado por Luis C. Costa

 

Trabalho de Assessoria de Comunicação realizado com apoio