Curso de Especialização em Realidade Brasileira – CRB: uma construção entre a UFFS, os Movimentos Sociais do Campo e o CEAGRO pela garantia do direito à educação para a classe trabalhadora

Por Jaine G. de Amorin 
Revisão Thaile V. Lopes

A conjuntura política e econômica que estamos vivendo na atualidade evidencia uma crise estrutural do capitalismo e uma ofensiva do capital internacional sobre as economias periféricas, em busca de recursos naturais, matérias-primas, energia e mercado, com o objetivo de aplicar um programa neoliberal (subordinando a política aos interesses do capital financeiro e das empresas transnacionais). As contradições e crises do sistema capitalista afetam o mundo inteiro e, sobretudo, a América Latina. No Brasil, vivemos uma grave crise econômica, política, social e ambiental, que afeta diretamente a classe trabalhadora, tendo em vista que,para aumentar a taxa de lucro e o processo de acumulação capitalista, a burguesia aumenta a exploração dos trabalhadores, retirando direitos históricos, como a CLT, por meio de medidas como a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência, a terceirização e as privatizações. Diante disso, é importante para a classe trabalhadora entender que se há crise, mesmo quando difícil de ser solucionada, há possibilidade de mudanças. Para tanto, é necessário construir espaços e processos permanentes de estudo e análise da história e da realidade brasileira, e, a partir daí, traçar o caminho e ações coletivas para intervir nela criticamente, a fim de transformá-la.

Nessa perspectiva, considerando a importância do acesso ao conhecimento, para entender a realidade em que vivemos e elevar o nível cultural, educacional e de consciência da classe trabalhadora, a Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus de Laranjeiras do Sul, por meio de uma parceria com os Movimentos Sociais do Campo (MST, MPA, MAB), APP Sindicato e o CEAGRO, construiu a proposta do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Realidade Brasileira. A especialização terá duração de 2 anos e funcionará em regime de alternância, com atividades pedagógicas e de estudo em tempo universidade e tempo comunidade. O tempo universidade possuirá três etapas presenciais (a primeira em janeiro de 2018, a segunda em julho de 2018 e a terceira em janeiro de 2019), que serão realizadas no CEAGRO, Unidade Vila Velha, em Rio Bonito do Iguaçu.

Foto: Jaine Amorin

A primeira etapa do curso iniciou na segunda-feira (22) e terá a duração de 10 dias, sendo 10 horas aulas/dia.

O ato de abertura do curso contou com a participação e falas dos professores coordenadores do curso pela UFFS, Roberto A. Finatto e Ana Cristina Hammel;do coordenador geral do Ceagro, Luis Carlos Costa; da Diretora de Campus da UFFS Laranjeiras do Sul, Janete Stoffel; bem como os representantes dos Movimentos Sociais.Todos afirmaram a importância da realização do curso, para a Universidade e para as organizações sociais que contribuem na construção do mesmo. A aula inaugural foi ministrada pela Professora Dra. Maria Orlanda Pinassi, da UNESP, que fez uma análise de conjuntura,da crise econômica e política do Neodesenvolvimentismo no Brasil.

Cumprindo com o pré-requisito do edital, a turma tem representantes de movimento sociais e organizações sindicais, sendo eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA e APP Sindicato. A turma é composta por 67 estudantes, desses, 45 receberão certificado de especialização (pós-graduação) e 22de extensão.

O MST compreende a educação como um dos direitos humanos fundamentais e como uma das suas principais bandeiras de luta, Nesse sentido, organizou 27 estudantes acampados/as ou assentados/as em áreas de reforma agrária para fazer o curso; Desses, 17 são acampados/as em áreas de conflito pela terra na região da Cantuquiriguaçu. Esses/as estudantes compreendem que  não basta apenas a conquista do direito à terra, mas que o direito a educação também é fundamental, pois o conhecimento é uma condição essencial para a luta da classe trabalhadora.

Em entrevista com Ciliana Federici (formada em pedagogia e receberá certificado de especialização), que é do Acampamento Herdeiros da Terra de I de Maio, coordenadora da Escola Itinerante Herdeiros do Saber e integrante do setor de educação do MST, a mesma destaca que esse curso vai contribuir na formação política e pedagógica dos militantes e também na construção da proposta educacional do MST, que nas palavras dela é “(…) uma proposta de educação que consiga dentro e fora da sala de aula, fazer com que os sujeitos pensem sobre a sociedade que eles estão vivendo (…)” e ainda ressalta que “o curso vem ajudar e muito na prática nossa, seja em sala de aula, na militância, ou em qualquer espaço (…), vem para que consigamos entender melhor a sociedade que estamos vivendo, e também ajudar o Movimento do qual fazemos parte, no ambiente onde convivemos, independente do setor ou coletivo que fazemos parte. O curso vem com o objetivo de interpretar a atual conjuntura, mas para além disso, compreendê-la pra tentar construir uma sociedade diferente que é o que sonhamos enquanto movimento!”

Federici ainda destaca a importância da presença de diversos movimentos sociais e sindicais, que para ela é uma grande experiência, pois cada organização tem na sua luta suas particularidades, no entanto, somos a classe trabalhadora e temos um mesmo ideal, que é a construção de uma nova sociedade. Conclui destacando a importância da UFFS ter aberto as portas para os estudantes não graduados, “aqui temos pessoas estudando que são formadas com curso superior e também tem aqueles que estão no acampamento,que são coordenadores de núcleo de base, isso é muito importante, cada um tem sua caminhada, mas todos querem adquirir o conhecimento e esta e uma grande oportunidade”.

O Professor Roberto A. Finatto, coordenador do curso, destaca que “a Especialização em Realidade Brasileira é fundamental para ampliar e aprofundar o conhecimento sobre a formação e a realidade socioespacial do Brasil” e socializa como foi a articulação da proposta de trabalho desse curso dentro da Universidade: “Foi realizado um esforço para articular a proposta de trabalhar a realidade brasileira com base em autores clássicos de diferentes disciplinas, com a disponibilidade e a formação do corpo docente do campus”. Complementa que “a oferta do curso aproxima ainda mais a universidade da realidade em que ela está inserida”.

Finatto ainda ressalta a importância dos movimentos sociais estarem presentes dentro da Universidade, desde o período de sua construção: “a presença dos movimentos sociais populares sempre foi marcante, inclusive no seu processo de constituição”.Ressalta a importância da turma ser composta por discentes que atuam em movimentos sociais e organizações sindicais. “A presença de professores das redes municipal e estadual de educação, representantes dos movimentos sociais e organizações sindicais entre os discentes amplia a abrangência das reflexões produzidas e permite que as mesmas cheguem até as escolas, comunidades e outros espaços de formação em que os estudantes do curso atuam.” Conclui Finatto.

O CRB é uma importante iniciativa que, além de possibilitar o estudo de autores clássicos brasileiros, como Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, dentre outros, apresenta a possibilidade de identificar as contradições da sociedade, como as forças do capital atuam em nosso país, para confrontá-las. Estamos em meio a uma crise sem precedentes na história e ainda não estão claros os caminhos e as construções possíveis. Mas teremos muitas mudanças pela frente, por isso é importante debater e a analisar quais ações devemos adotar de forma conjunta, como parte de um processo permanente de luta, estudo e análise da história e da realidade brasileira.

 

GRUPOS AGROECOLÓGICOS

Matéria Também Publicada no Jornal Impresso Terra Vermelha

Por Rodrigo Silva 

Chamamos de Grupo o conjunto de sujeitos que se unem em prol de um objetivo comum, que no caso dos participantes da Feira Regional de Economia Solidaria (FESA) é o avanço da Agroecologia e da Economia Solidária. Eles podem ser Cooperativas, Associações ou Grupos Informais. Guardadas as devidas proporções, podem-se indicar as seguintes características dos Grupos Agroeocológicos:

  1. Diálogo de Saberes como Estratégia para a Construção do Conhecimento: os saberes e os fazeres dos agricultores são valorizados. A partir desta valorização, novas opiniões de técnicos, pesquisadores e consumidores se somam. Aumentando assim o conhecimento acerca da Agroecologia e da Economia Solidária.
  2. Produção Diversificada de Alimentos: ao invés de produzir um ou dois gêneros alimentícios, os Grupos Agroecológicos apostam na diversidade como caminho para geração de renda e promoção da soberania alimentar. Num levantamento feito com famílias do Núcleo Luta Camponesa, identificou-se mais de 80 espécies consumidas e comercializadas em 10 Grupos.
  3. Comercialização Baseada nos Princípios da Economia Solidária: os Grupos priorizam que sua produção seja comercializada em relações onde “todos ganham”, como feiras, cestas, entregas diretas e afins. Nestes espaços, os consumidores ganham na medida em que se alimentam de produtos saudáveis. Já os agricultores são beneficiados ao receberem um preço justo por seus produtos.
  4. Aumento da Cooperação: graças a práticas como mutirões, reuniões ou atividades culturais (festas, almoços e afins), as famílias dos Grupos Agroecológicos tendem a criar um ambiente de cooperação entre si. Esse processo faz com que os problemas em comum muitas vezes sejam tratados de forma coletiva, aumentando assim as possibilidades de resolução

Atualmente, o CEAGRO vem apoiando mais de 30 Grupos inseridos em 10 municípios dos Territórios da Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. Eles são vinculados ao Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia, Coletivo Regional de Mulheres e Coletivo Regional da Juventude. Estes Grupos são responsáveis pela maioria dos espaços de comercialização encontrados na  FESA que acontece anualmente na cidade de Laranjeiras do Sul, PR.

Acampamento Herdeiros da Terra de I de Maio, Município de Rio Bonito do Iguaçu/PR. Fonte: Arquivo CEAGRO

Trabalho de Assessoria de Comunicação Realizado com Apoio 

Produção agroecológica da região se espalha pelo Brasil!

Produção agroecológica da região Centro do Paraná se espalha pelo Brasil!

Depois do sucesso que os sucos naturais e agroecológicos fizeram no Inverno Gastronômico e na V FESA, chegou a vez dos cariocas e representantes de todo o país conhecerem os sabores da nossa terra. O Agricultor Antonio Vaz, do Grupo Agroecológico Terra de Todos (dos municípios de Palmital e Santa Maria do Oeste – PR), está no 8° Encontro Nacional do MAB que acontece entre os dias 01 e 05 de outubro na cidade do Rio de Janeiro . Seu Antônio está acompanhado de outros cinco integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA do Paraná e levou para comercialização sucos de guabiroba, mixirica, maracujá e moranguinho, produzidos pelas famílias do Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia. Além, é claro, do seu famoso vinho de laranja. Ele nos conta que a barraca de sucos é compartilhada com agricultores do Pará, com polpas e suco de açaí.
O Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens deste ano tem o lema “Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e co
ntrole popular”, e reúne cerca de 4 mil atingidos de todas as regiões do Brasil.

Oficina sobre Sistematização de Redes de Agroecologia do Programa Ecoforte

 

Fonte: Facebook Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

O gestor ambiental do CEAGRO, Rodrigo Silva, participou da Oficina sobre Sistematização de Redes de Agroecologia do Programa Ecoforte, realizada entre os dias 27 e 30 de setembro em Recife – PE. O evento foi organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Seu objetivo principal foi construir uma metodologia para avaliar os impactos sociais, econômicos e ambientais que o Programa Ecoforte alcançou nas 28 Redes apoiadas em todo o Brasil. O CEAGRO foi o proponente e executor do projeto que atendeu a Rede de Agroecologia da Cantuquiriguaçu, entre 2015 e 2017, com a implantação de 72 unidades de referência em produção agroecológica, além de diversas oficinas, dias de campo e capacitações.
O evento também contou com a participação da economista Cristina Sturmer, do Núcleo de Estudos em Cooperação – NECOOP/UFFS de Laranjeiras do Sul, que irá atuar no processo de sistematização da Rede de Agroecologia da Cantuquiriguaçu nos próximos meses.

Fonte: Facebook Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

Oficina de Compostagem e produção de biofertilizantes.

No dia 27/09 os agrônomos do CEAGRO Leonardo Xavier e Luis Costa realizaram o segundo módulo do curso de capacitação em agroecologia no assentamento Barreiro, em Reserva do Iguaçu. A atividade contou com a participação de agricultores e agricultoras de seis comunidades do município, associados da cooperativa COOPAFI. O próximo módulo será em outubro e abordará o tema Planejamento da unidade de produção.

Reserva do Iguaçu.

Reserva do Iguaçu.

Produção Agroecológica na Unidade Vila Velha.

Unidade Vila Velha, Rio Bonito do Iguaçu.

Com duas estufas novas e um método sustentável de preservação do meio ambiente e suas diversidades, a produção de hortaliças feita no centro de formação Vila Velha- CEAGRO – Rio Bonito do Iguaçu, é agroecológica.

Produção que tem o objetivo de fornecer alimentos saudáveis a todos os educandos/as e educadores/as que utilizam daquele espaço para capacitação, sejam elas formais ou informais.
Essa produção aumenta a cada instante, assim como a agroecologia vem ganhando espaço em meio a uma sociedade que se envenena a cada suspiro. 

Unidade Vila Velha, Rio Bonito do Iguaçu.

 

 

Agroflorestas se espalham pelo país: cultivo sem desmatamento

RIO — À primeira vista, pode parecer uma mata crescendo sem interferência humana, tal a quantidade de árvores. Mas, caminhando pela área, o visitante identifica a grande variedade de alimentos brotando de arbustos e das próprias árvores. Limão, açaí, manga, acerola, caju, banana, laranja e muito mais. Nada está ali por acaso. As espécies que geram esses frutos foram cuidadosamente plantadas neste terreno em Silva Jardim, no interior do estado. Trata-se de uma agrofloresta.

— Quando me falaram, achei que era coisa de maluco. ‘Plantar sem desmatar a floresta? Vai semear como? Vai ter que fazer casa em árvore e morar que nem índio’ — conta a agricultora Marlene Assunção, de 52 anos, dona da propriedade. — Hoje eu entendo. As coisas vão estar aqui para nossos netos. É menos egoísta.

As agroflorestas, também chamadas de sistemas agroflorestais (SAF), vêm ganhando relevância no país como uma alternativa que alia a produção de alimentos, necessária num mundo de população crescente (seremos 8,5 bilhões de Homo sapiens em 2030, segundo estimativas da ONU), com a preservação de florestas, não menos importante num planeta que precisa manter seus recursos naturais e, assim, frear as mudanças climáticas. O conceito preconiza que a agricultura pode se beneficiar, e muito, de áreas intensamente arborizadas.

A prática agroflorestal já existe há décadas, mas agora começa a receber a devida atenção, disseminando-se pelo país. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, está dando início a um projeto para identificar, mapear e estimular agroflorestas nas regiões Sul e Sudeste. No Estado do Rio, há exemplos de SAFs concentrados, principalmente, em Paraty, no Maciço da Pedra Branca (Zona Oeste do Rio) e na região de Casimiro de Abreu, onde uma oficina do Projeto Agenda Gotsch está capacitando 60 agricultores para adotar essas práticas em suas terras. O curso começou na quinta-feira e termina hoje.

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Agricultura sintrópica

A oficina é ministrada pelo pesquisador suíço Ernst Götsch, um dos pioneiros desse método de cultivo no país. O agricultor veio para o Brasil na década de 1980, estabelecendo-se numa fazenda no Sul da Bahia. Desde então, desenvolve técnicas de recuperação de solo com métodos de plantio que mimetizam a regeneração natural de florestas.

— Queremos trabalhar para criar agroecossistemas, que promovem essa integração. Em vez de estabelecer áreas de proteção permanente, constituir sistemas de integração permanente, que permitam ao agricultor produzir melhorando o solo e criando um ecossistema mais próspero — afirma Götsch, que está gravando uma série de vídeos para divulgar suas técnicas na internet.

O europeu usa a expressão “agricultura sintrópica” para definir o conceito que busca divulgar. Trata-se do uso de dinâmicas naturais para enriquecer ou recuperar o solo, que se torna apto para a produção agrícola sem a necessidade de fertilizantes químicos, apenas usando os recursos naturais. E sem devastação da mata.

Mas, para aproveitar ao máximo o que a natureza oferece para o cultivo, o manejo da floresta é fundamental. Quem explica é o técnico ambiental Nelson Barbosa, coordenador do Programa de Extensão Ambiental da Associação Mico-Leão-Dourado, em Silva Jardim. Segundo ele, a cada cinco anos, é preciso podar árvores, até mesmo derrubar algumas delas, e deixar os resíduos no solo. São estes resíduos (galhos e folhagens, por exemplo) que espalham na superfície os nutrientes absorvidos, anteriormente, pelas raízes das árvores nas camadas profundas da terra.

— É importante ter áreas de luz direta e sombras na plantação. É aí que ajudamos, levando equipamentos adequados para o manejo e mostrando onde fazer — explica Barbosa.

A Associação Mico-Leão-Dourado funciona na reserva biológica de Poço das Antas, entre Silva Jardim e Casimiro de Abreu. O apoio aos agricultores surgiu para ajudar a entidade, que planeja garantir 25 mil hectares (o equivalente a cerca de 25 mil campos de futebol) de floresta integrada para a sobrevivência de dois mil micos ameaçados de extinção. Como a reserva tem 5.500 hectares, uma das soluções foi incentivar práticas sustentáveis entre os agricultores vizinhos, protegendo as árvores com prosperidade agrícola.

Adeildo Ataliba mostra um limão no pé em sítio – Agência O Globo

— Quando cheguei, há 20 anos, a terra era seca e o solo rachado, quase pedra. Depois que comecei a agrofloresta, mudou tudo. É este solo verde, de terra preta. Não precisa de enxada, você cava com o pé, de tão macio — descreve Adeílson Ataliba, de 63 anos, que dedica dois hectares de seu terreno, em Silva Jardim, ao cultivo de café, tangerina e palmito.

Cortar árvores da tão degradada Mata Atlântica pode parecer negativo, mas órgãos e ONGs ambientais dão força à prática feita de forma consciente. O Ministério do Meio Ambiente apoia agroflorestas em diferentes regiões. Em setembro de 2015, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) publicou uma resolução que regulamenta o manejo sustentável da floresta, para apoiar os SAFs em território fluminense.

Em Presidente Figueiredo, na Amazônia, uma nova parceria da Coca-Cola com a ONG Imaflora vai fornecer apoio técnico para adoção de sistemas agroflorestais a centenas de famílias que produzem o guaraná comprado pela multinacional.

 

As práticas agroflorestais são muito usadas para recuperar áreas desmatadas. Exemplo disto é a Fazendinha Agroecológica, em Seropédica. Parceria da Embrapa com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio (Pesagro), o projeto teve início nos anos 1990, numa área de 70 hectares. Espécies que precisam de mais nutrientes foram dispostas em fileiras, com frutíferas e madeireiras de valor comercial. Árvores de rápido crescimento foram colocadas junto a essas espécies “exigentes”, para dar sombra e material orgânico. Hoje, o terreno, coalhado de vegetais, serve de área de pesquisa e aprendizado para estudantes.

— A agrofloresta é uma alternativa de proteção ambiental, mas também uma reserva de segurança alimentar — diz o pesquisador Eduardo Campello, da Embrapa Agrobiologia, que trabalha no mapeamento das SAFs. — Já temos um questionário pronto e espero ter resultados desse projeto em breve.

O engenheiro agrônomo Claudemar Mattos, da ONG AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, é um ativista da causa. Ha 15 anos, ele foi a Barra do Turvo, em São Paulo, onde há uma atuante cooperativa de produtores agroflorestais, para trazer a experiência ao Estado do Rio. Segundo ele, no Norte, muitos índios só plantam com técnicas agroflorestais:

— As árvores conservam água, enriquecem o solo e dão sombra. São recicladoras do meio ambiente, que pode ser preservado com produtividade.

Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica

O desenvolvimento de modelos de produção agrícola de base ecológica tornou-se necessário para suprir a necessidade crescente de alimentos livres de resíduos tóxicos e ao mesmo tempo, respeitar os preceitos da sustentabilidade, da conservação do meio ambiente e do bem-estar do ser humano. A produção orgânica de hortaliças se enquadra neste contexto e no Brasil, cada vez mais, vem conquistando simpatizantes tanto na agricultura familiar como no seguimento empresarial formado por médios e grandes produtores rurais. Também é preconizada por políticas públicas direcionadas a hortas urbanas e periurbanas.

A transição agroecológica refere-se a um processo gradual de mudança na forma de manejo do agroecossistema, que envolve a passagem de um modelo agroquímico de produção, de alta dependência de insumos externos (fertilizantes
e agrotóxicos) para outro modelo de agricultura que incorpore princípios, métodos e tecnologias de base ecológica. As mudanças podem ocorrer em vários níveis: começando pela redução no uso de insumos convencionais; passando para a substituição de práticas e insumos convencionais por técnicas e insumos alternativos; e por fim, pela remodelagem de toda a propriedade conforme os princípios agroecológicos, com elevado aproveitamento dos processos naturais e interações ecológicas. Isto pode levar algum tempo, dependendo do tipo de manejo utilizado anteriormente na propriedade, das condições edafoclimáticas locais e das estratégias agroecológicas adotadas para construção do novo
modelo de produção agrícola. Nos primeiros anos de conversão para a agricultura orgânica, são comuns os surtos de pragas e isto ocorre porque os produtores deixaram de empregar agrotóxicos no manejo de pragas e ao mesmo, seu sistema agrícola não tem as defesas próprias de sistemas ecológicos amadurecidos. Apesar disso, várias medidas de controle mostram-se efetivas par proteção das plantas neste período de conversão, desde que adotadas de forma correta e dentro da concepção do manejo ecológico de pragas (MEP).

Com esta Circular Técnica pretende-se disponibilizar uma série de informações sobre pragas que atacam hortaliças e métodos para seu controle durante o período de conversão para o modelo de produção orgânica, de tal forma que os agricultores tenham subsídios para alcançar os estágios mais avançados da transição agroecológica e a sustentabilidade do seu processo produtivo.

Para baixar o artigo completo, visite:

http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/957535